A nossa diversidade

Existem coisas que demoramos muito a aprender, a absorver. Não que não tivéssemos a oportunidade de aprender ao longo da vida. Só parece não ser a hora certa para entendermos com a emoção e não com a razão.

Por exemplo, já lemos mil vezes sobre você ser você mesma, não querer ser tudo ou se esforçar para ser o que não é. Nosso papel é esse nesse mundo. Aprender e evoluir, mas temos mais chances de nos sermos felizes e crescer ainda mais quando aceitamos e realmente abraçamos quem somos.

Eu acho que finalmente absorvi isso lendo um post no Instagram sobre o papel da Doula. No post ele diz que a Doula não faz isso, nem aquilo e não precisa aprender X ou Y para ser uma Doula. O papel real da Doula é o de acompanhar, encorajar, massagear, apoiar e chamar por ajuda se preciso for. Ela não é a parteira, enfermeira, pai, médico, aparelhos… ela pode ser tudo isso se ela quiser, mas se ela não for, o papel dela não é esse.

Vão ter pessoas que concordam e discordam com o que escrevi acima e é exatamente assim que acontece com a gente na vida real.

Somos só uma pessoa. Com qualidade e defeitos. Óbvio. Mas será tão óbvio assim?

Todo mundo pede para sermos mais, pedem – as vezes diretamente, as vezes nas entrelinhas – para sermos o que eles precisam/querem da gente, mas nem sempre aproveitam o que somos. Podemos nos esforçar para ser essa pessoa mas a verdade é que seríamos muito muito mais completos e felizes se nós e as pessoas ao nosso redor entendessem quem realmente somos.

Eu digo com frequência que eu nasci velha. Sempre tive vontades e hábitos de pessoas velhas. Até a memória me falha muito. Para mim foi muito difícil me aceitar assim na adolescência, quando minha mãe insistia para eu sair ou eu insistia em sair para aquela festa/balada, só para ter certeza que o que eu queria mesmo era estar em casa lendo um livro ou vendo TV com meus pais e tomando um chá.

Até hoje – e acho que pra sempre – vou tentar me ajustar a expectativa dos outros, da nossa idade, do trabalho, da sociedade. Mas alguns dias temos essa clareza e aceitamos de verdade, com amor, como somos.

Não sou uma irmã que liga sempre ou que está realmente presente na vida da minha irmã, mas sinto um amor profundo por ela e pelos meus sobrinhos. Me importo em sempre perguntar para os meus pais como ela está e o que está acontecendo na vida deles.

Por outro lado, eu me importo muito em ligar para os meus pais com frequência por que acho que estou tão longe e que minhas escolhas me impedem de passar o tempo que eu gostaria perto deles. Eles são pessoas que vão deixar um vazio sem reparo quando se forem (todos vamos morrer um dia).

Me importo de ligar para a minha tia por que eu também tenho um grande amor por ela e me preocupo muito com ela e em saber como ela está se virando sozinha. Gostaria de poder abraçar eles com tanta frequência quanto eu abraço o Hi.

Eu sou uma companheira MUITO carente, que preciso de toque, abraço, beijos e cuidados, mas não sou submissa e não gosto de drama ou complicações, menos ainda de brigar. Gosto da liberdade de criar futuros incertos e inesperados e até agora não senti a necessidade de me fixar em algum lugar e nem de ter filhos.

Sou uma amiga leal demais, que não gosto de falar sobre vaidades (roupas, maquiagem, estética), trabalho, lugares caros (restaurantes, hotéis, passeios), carros, mas pode contar comigo para tomar um chá e conversar sobre a vida, escolhas, destinos, planetas, sentimentos, menstruação, economia e etc…

No grupo de amigas que tenho somos todas muito diferentes e agora que somos crescidas, eu acho que sabemos entender melhor as diferenças de cada uma.

Uma é da saúde, do exercício e da moda, a outra de uma vida agitada, balada e caminhadas, outra é empreendedora, gosta de sair mas moderadamente, a outra é a mãe mais jovem que eu conheço e já sabe que vai derrubar o asilo de tanta festa, já a outra acabou de virar mãe e está se descobrindo nesse novo mundo. Outra já é mãe exigente mas cheia de amor, carente mas muito presente. Tem a que é muito louca e divertida e religiosa, com uma paixão pela família e pelo trabalho. Temos de tudo então as vezes fica difícil de conseguirmos nos encaixar em todas as conversas.

Estranho querermos tanto nos encaixar. No passado, quando uma de nós tinha um problema, foi justamente a diversidade de opiniões e experiências que a ajudou a ver e resolver de uma forma que ela sozinha não faria, então porque queremos tanto nos encaixar? Porque não podemos SEMPRE entender e respeitar a forma que cada um tem de levar a vida, de ser?

Até no trabalho. Sou muito confiante e executora se eu sinto que as pessoas ao meu redor são de confiança. Que se eu errar, elas vão estar lá para me ajudar e não me deixar cair. Quando eu não tenho essa certeza, eu sou tímida e insegura. Eu mesma não me acho uma planejadora de primeira mas me sinto a top em organizar e executar qualquer projeto por mais técnico que seja.

Tenho um instinto afiadíssimo em casa para cozinhar, arrumar a casa conforme as coisas pedem para ser colocadas em seus devidos lugares, as roupas que vão me deixar feliz e confortável, cores, cheiros, sensações mas confio mais no meu sistema de organização e planilhas no trabalho, e assim vai…

Somos tão diversos, tão ricos… desejo nesse novo ciclo e em todos os próximos, saber aproveitar a minha diversidade e a dos outros. Me aceitar e aceitar os outros também, de verdade, de coração aberto.

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